sábado, 26 de julho de 2014

Como é o pensar do filósofo?

   Leia o relato do filósofo francês André Comte-Sponville:  

  Um jovem professor de filosofia passeia com um amigo e encontra um camponês, que seu amigo conhece, lhe apresenta e com qual nosso filósofo troca algumas palavras.
-O que o senhor faz?- indaga o camponês.
-Sou professor de filosofia.
-Isso é profissão?
-Por que não? Acha estranho?
-Um pouco!
-Por quê?
-Um filósofo é uma pessoa que não liga para nada...
 Não sabia que se aprendia isso na escola.

   O que é um filósofo? É alguém que pratica a filosofia, em outras palavras, que se serve da razão para tentar pensar o mundo e sua própria vida, a fim de se aproximar da sabedoria ou da felicidade. E isso se aprende na escola? Tem de ser aprendido, já que ninguém nasce filósofo e já que a filosofia é, antes de mais nada, um trabalho. Tanto melhor, se ele começar na escola. O importante é começar, e não parar mais. Nunca é cedo demais nem tarde demais para filosofar, dizia Epicuro [...]. Digamos que só é tarde demais quando já não é possível pensar de modo algum. Pode acontecer. Mais um motivo para filosofar sem mais tardar.
  O texto de Sponville termina com uma constatação: a de que só não filosofam aqueles para quem "já não é possível pensar de modo algum". Nesse ponto, cabe a pergunta: afinal, só pensa e reflete quem filosofa? É claro que não, já que você pensa quando resolve uma equação matemática, reflete criticamente ao estudar história geral, pensa antes de decidir sobre o que vai fazer no fim de semana, pensa quando escreve um poema.
  Então, que tipo de "pensar" é esse, do filósofo? Não é melhor nem superior a todos os outros, mas sim diferente, porque se propõe a "pensar nossos pensamentos e ações". Dessa atitude resulta o que chamamos experiência filosófica. Ao criar ou explicitar conceitos, os filósofos delimitam os problemas que os intrigam e buscam o sentido desses pensamentos e ações, para não aceitarem certezas e soluções fáceis demais.
 
(Filosofando,Maria Lúcia de Arruda Aranha,Maria Helena Pires Martins,Capítulo 1,A experiência filosófica,página 15)

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