Leibniz estabeleceu uma distinção
entre verdades de razão e verdades de fato.
As verdades de razão enunciam que
uma coisa é, necessária e universalmente,
não podendo de modo algum ser
diferente do que é e de como é. O exemplo mais
evidente das verdades de razão
são as idéias matemáticas. É impossível que o
triângulo não tenha três lados e
que a soma de seus ângulos não seja igual a soma
de dois ângulos retos; é
impossível que um círculo não tenha todos os pontos
eqüidistantes do centro e que não
seja a figura formada pelo movimento de um
semi-eixo ao redor de um centro
fixo; é impossível que 2 + 2 não seja igual a 4; é
impossível que o todo não seja
maior do que as partes.
As verdades de razão são inatas.
Isso não significa que uma criança, por
exemplo, nasça conhecendo a
matemática e sabendo realizar operações
matemáticas, demonstrar teoremas
ou resolver problemas nessa área do
conhecimento. Significa que
nascemos com a capacidade racional, puramente
intelectual, para conhecer idéias
que não dependem da experiência para serem
formuladas e para serem
verdadeiras.
As verdades de fato, ao
contrário, são as que dependem da experiência, pois
enunciam idéias que são obtidas através da sensação,
da percepção e da memória.
As verdades de fato são empíricas
e se referem a coisas que poderiam ser
diferentes do que são, mas que
são como são porque há uma causa para que
sejam assim. Quando digo “Esta
rosa é vermelha”, nada impede que ela pudesse
ser branca ou amarela, mas se ela
é vermelha é porque alguma causa a fez ser
assim e uma outra causa poderia
tê-la feito amarela. Mas não é acidental ou
contingente que ela tenha cor e é
a cor que possui uma causa necessária.
As verdades de fato são verdades
porque para elas funciona o princípio da razão
suficiente, segundo o qual tudo o
que existe, tudo o que percebemos e tudo
aquilo de que temos experiência
possui uma causa determinada e essa causa pode
ser conhecida. Pelo princípio da
razão suficiente – isto é, pelo conhecimento das
causas – todas as verdades de
fato podem tornar-se verdades necessárias e serem
consideradas verdades de razão,
ainda que para conhecê-las dependamos da
experiência.
Observamos, assim, que, para
Leibniz, o princípio da razão suficiente ou a idéia
de causalidade universal e
necessária permite manter as idéias inatas e as idéias
empíricas. É justamente o
princípio da causalidade, como vimos, que será alvo
das críticas dos empiristas, na
filosofia de David Hume. Para esse filósofo, o
princípio da razão suficiente é
apenas um hábito adquirido por experiência como
resultado da repetição e da
freqüência de nossas impressões sensoriais. A crítica
de Hume à causalidade e ao princípio da razão
suficiente leva à resposta de Kant.
Fonte: Chaui, Marilena. Convite à filosofia, Unidade 2, Capítulo 4.
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