quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

A solução de Leibniz no século XVII



Leibniz estabeleceu uma distinção entre verdades de razão e verdades de fato.
As verdades de razão enunciam que uma coisa é, necessária e universalmente,
não podendo de modo algum ser diferente do que é e de como é. O exemplo mais
evidente das verdades de razão são as idéias matemáticas. É impossível que o
triângulo não tenha três lados e que a soma de seus ângulos não seja igual a soma
de dois ângulos retos; é impossível que um círculo não tenha todos os pontos
eqüidistantes do centro e que não seja a figura formada pelo movimento de um
semi-eixo ao redor de um centro fixo; é impossível que 2 + 2 não seja igual a 4; é
impossível que o todo não seja maior do que as partes.
As verdades de razão são inatas. Isso não significa que uma criança, por
exemplo, nasça conhecendo a matemática e sabendo realizar operações
matemáticas, demonstrar teoremas ou resolver problemas nessa área do
conhecimento. Significa que nascemos com a capacidade racional, puramente
intelectual, para conhecer idéias que não dependem da experiência para serem
formuladas e para serem verdadeiras.
As verdades de fato, ao contrário, são as que dependem da experiência, pois
enunciam idéias que são obtidas através da sensação, da percepção e da memória.
As verdades de fato são empíricas e se referem a coisas que poderiam ser
diferentes do que são, mas que são como são porque há uma causa para que
sejam assim. Quando digo “Esta rosa é vermelha”, nada impede que ela pudesse
ser branca ou amarela, mas se ela é vermelha é porque alguma causa a fez ser
assim e uma outra causa poderia tê-la feito amarela. Mas não é acidental ou
contingente que ela tenha cor e é a cor que possui uma causa necessária.
As verdades de fato são verdades porque para elas funciona o princípio da razão
suficiente, segundo o qual tudo o que existe, tudo o que percebemos e tudo
aquilo de que temos experiência possui uma causa determinada e essa causa pode
ser conhecida. Pelo princípio da razão suficiente – isto é, pelo conhecimento das
causas – todas as verdades de fato podem tornar-se verdades necessárias e serem
consideradas verdades de razão, ainda que para conhecê-las dependamos da
experiência.
Observamos, assim, que, para Leibniz, o princípio da razão suficiente ou a idéia
de causalidade universal e necessária permite manter as idéias inatas e as idéias
empíricas. É justamente o princípio da causalidade, como vimos, que será alvo
das críticas dos empiristas, na filosofia de David Hume. Para esse filósofo, o
princípio da razão suficiente é apenas um hábito adquirido por experiência como
resultado da repetição e da freqüência de nossas impressões sensoriais. A crítica
de Hume à causalidade e ao princípio da razão suficiente leva à resposta de Kant.

Fonte: Chaui, Marilena. Convite à filosofia, Unidade 2, Capítulo 4.

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