quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

O que perguntavam os primeiros filósofos



Por que os seres nascem e morrem? Por que os semelhantes dão origem aos
semelhantes, de uma árvore nasce outra árvore, de um cão nasce outro cão, de
uma mulher nasce uma criança? Por que os diferentes também parecem fazer
surgir os diferentes: o dia parece fazer nascer a noite, o inverno parece fazer
surgir a primavera, um objeto escuro clareia com o passar do tempo, um objeto
claro escurece com o passar do tempo?
Por que tudo muda? A criança se torna adulta, amadurece, envelhece e
desaparece. A paisagem, cheia de flores na primavera, vai perdendo o verde e as
cores no outono, até ressecar-se e retorcer-se no inverno. Por que um dia
luminoso e ensolarado, de céu azul e brisa suave, repentinamente, se torna
sombrio, coberto de nuvens, varrido por ventos furiosos, tomado pela
tempestade, pelos raios e trovões?
Por que a doença invade os corpos, rouba-lhes a cor, a força? Por que o alimento
que antes me agradava, agora, que estou doente, me causa repugnância? Por que
o som da música que antes me embalava, agora, que estou doente, parece um
ruído insuportável?
Por que o que parecia uno se multiplica em tantos outros? De uma só árvore,
quantas flores e quantos frutos nascem! De uma só gata, quantos gatinhos
nascem!
Por que as coisas se tornam opostas ao que eram? A água do copo, tão
transparente e de boa temperatura, torna-se uma barra dura e gelada, deixa de ser
líquida e transparente para tornar-se sólida e acinzentada. O dia, que começa frio
e gelado, pouco a pouco, se torna quente e cheio de calor.
Por que nada permanece idêntico a si mesmo? De onde vêm os seres? Para onde
vão, quando desaparecem? Por que se transformam? Por que se diferenciam uns
dos outros? Mas também, por que tudo parece repetir-se? Depois do dia, a noite;
depois da noite, o dia. Depois do inverno, a primavera, depois da primavera, o
verão, depois deste, o outono e depois deste, novamente o inverno. De dia, o sol;
à noite, a lua e as estrelas. Na primavera, o mar é tranquilo e propício à
navegação; no inverno, tempestuoso e inimigo dos homens. O calor leva as águas
para o céu e as traz de volta pelas chuvas. Ninguém nasce adulto ou velho, mas
sempre criança, que se torna adulto e velho.
Foram perguntas como essas que os primeiros filósofos fizeram e para elas
buscaram respostas.
Sem dúvida, a religião, as tradições e os mitos explicavam todas essas coisas,
mas suas explicações já não satisfaziam aos que interrogavam sobre as causas da
mudança, da permanência, da repetição, da desaparição e do ressurgimento de
todos os seres. Haviam perdido força explicativa, não convenciam nem
satisfaziam a quem desejava conhecer a verdade sobre o mundo.

Para refletir!!Boa leitura pra vocês. Se tiverem alguma dúvida deixem nos comentários ou entrem em contato. Beijos :)
Contato: jeniferbelles@gmail.com 

Fonte: Chaui, Marilena. Convite à filosofia, Capítulo 2. 

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