sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Período sistemático

Este período tem como principal nome o filósofo Aristóteles de Estagira,
discípulo de Platão.
Passados quase quatro séculos de Filosofia, Aristóteles apresenta, nesse período,
uma verdadeira enciclopédia de todo o saber que foi produzido e acumulado
pelos gregos em todos os ramos do pensamento e da prática considerando essa
totalidade de saberes como sendo a Filosofia. Esta, portanto, não é um saber
específico sobre algum assunto, mas uma forma de conhecer todas as coisas,
possuindo procedimentos diferentes para cada campo de coisas que conhece.
Além de a Filosofia ser o conhecimento da totalidade dos conhecimentos e
práticas humanas, ela também estabelece uma diferença entre esses
conhecimentos, distribuindo-os numa escala que vai dos mais simples e
inferiores aos mais complexos e superiores. Essa classificação e distribuição dos
conhecimentos fixou, para o pensamento ocidental, os campos de investigação da
Filosofia como totalidade do saber humano.
Cada saber, no campo que lhe é próprio, possui seu objeto específico,
procedimentos específicos para sua aquisição e exposição, formas próprias de
demonstração e prova. Cada campo do conhecimento é uma ciência (ciência, em
grego, é episteme).
Aristóteles afirma que, antes de um conhecimento constituir seu objeto e seu
campo próprios, seus procedimentos próprios de aquisição e exposição, de
demonstração e de prova, deve, primeiro, conhecer as leis gerais que governam o
pensamento, independentemente do conteúdo que possa vir a ter.
O estudo das formas gerais do pensamento, sem preocupação com seu conteúdo,
chama-se lógica, e Aristóteles foi o criador da lógica como instrumento do
conhecimento em qualquer campo do saber.
A lógica não é uma ciência, mas o instrumento para a ciência e, por isso, na
classificação das ciências feita por Aristóteles, a lógica não aparece, embora ela
seja indispensável para a Filosofia e, mais tarde, tenha se tornado um dos ramos
específicos dela.
Os campos do conhecimento filosófico
Vejamos, pois, a classificação aristotélica:
? Ciências produtivas: ciências que estudam as práticas produtivas ou as
técnicas, isto é, as ações humanas cuja finalidade está para além da própria ação,
pois a finalidade é a produção de um objeto, de uma obra. São elas: arquitetura
(cujo fim é a edificação de alguma coisa), economia (cujo fim é a produção
agrícola, o artesanato e o comércio, isto é, produtos para a sobrevivência e para o
acúmulo de riquezas), medicina (cujo fim é produzir a saúde ou a cura), pintura,
escultura, poesia, teatro, oratória, arte da guerra, da caça, da navegação, etc. Em suma, todas as atividades humanas técnicas e artísticas que resultam num produto
ou numa obra.
? Ciências práticas: ciências que estudam as práticas humanas enquanto ações
que têm nelas mesmas seu próprio fim, isto é, a finalidade da ação se realiza nela
mesma, é o próprio ato realizado. São elas: ética, em que a ação é realizada pela
vontade guiada pela razão para alcançar o bem do indivíduo, sendo este bem as
virtudes morais (coragem, generosidade, fidelidade, lealdade, clemência,
prudência, amizade, justiça, modéstia, honradez, temperança, etc.); e política, em
que a ação é realizada pela vontade guiada pela razão para ter como fim o bem da
comunidade ou o bem comum.
Para Aristóteles, como para todo grego da época clássica, a política é superior à
ética, pois a verdadeira liberdade, sem a qual não pode haver vida virtuosa, só é
conseguida na polis. Por isso, a finalidade da política é a vida justa, a vida boa e
bela, a vida livre.
? Ciências teoréticas, contemplativas ou teóricas: são aquelas que estudam
coisas que existem independentemente dos homens e de suas ações e que, não
tendo sido feitas pelos homens, só podem ser contempladas por eles. Theoria, em
grego, significa contemplação da verdade. O que são as coisas que existem por si
mesmas e em si mesmas, independentes de nossa ação fabricadora (técnica) e de
nossa ação moral e política? São as coisas da Natureza e as coisas divinas.
Aristóteles, aqui, classifica também por graus de superioridade as ciências
teóricas, indo da mais inferior à superior:
1. ciência das coisas naturais submetidas à mudança ou ao devir: física, biologia,
meteorologia, psicologia (pois a alma, que em grego se diz psychê, é um ser
natural, existindo de formas variadas em todos os seres vivos, plantas, animais e
homens);
2. ciência das coisas naturais que não estão submetidas à mudança ou ao devir: as
matemáticas e a astronomia (os gregos julgavam que os astros eram eternos e
imutáveis);
3. ciência da realidade pura, que não é nem natural mutável, nem natural
imutável, nem resultado da ação humana, nem resultado da fabricação humana.
Trata-se daquilo que deve haver em toda e qualquer realidade, seja ela natural,
matemática, ética, política ou técnica, para ser realidade. É o que Aristóteles
chama de ser ou substância de tudo o que existe. A ciência teórica que estuda o
puro ser chama-se metafísica;
4. ciência teórica das coisas divinas que são a causa e a finalidade de tudo o que
existe na Natureza e no homem. Vimos que as coisas divinas são chamadas de
theion e, por isso, esta última ciência chama-se teologia.
A Filosofia, para Aristóteles, encontra seu ponto mais alto na metafísica e na
teologia, de onde derivam todos os outros conhecimentos.
A partir da classificação aristotélica, definiu-se, no correr dos séculos, o grande
campo da investigação filosófica, campo que só seria desfeito no século XIX da
nossa era, quando as ciências particulares se foram separando do tronco geral da
Filosofia. Assim, podemos dizer que os campos da investigação filosófica são
três:
. O do conhecimento da realidade última de todos os seres, ou da essência de
toda a realidade. Como, em grego, ser se diz on e os seres se diz ta onta, este
campo é chamado de ontologia (que, na linguagem de Aristóteles, se formava
com a metafísica e a teologia).
. O do conhecimento das ações humanas ou dos valores e das finalidades da
ação humana: das ações que têm em si mesmas sua finalidade, a ética e a política,
ou a vida moral (valores morais) e a vida política (valores políticos); e das ações
que têm sua finalidade num produto ou numa obra: as técnicas e as artes e seus
valores (utilidade, beleza, etc.).
. O do conhecimento da capacidade humana de conhecer, isto é, o
conhecimento do próprio pensamento em exercício. Aqui, distinguem-se: a
lógica, que oferece as leis gerais do pensamento; a teoria do conhecimento, que
oferece os procedimentos pelos quais conhecemos; as ciências propriamente ditas
e o conhecimento do conhecimento científico, isto é, a epistemologia.
Ser ou realidade, prática ou ação segundo valores, conhecimento do pensamento
em suas leis gerais e em suas leis específicas em cada ciência: eis os campos da
atividade ou investigação filosófica.

Fonte: Chaui, Marilena. Convite à filosofia, Capítulo 3.

Gente, agora sim o blog tem uma página no facebook! :) 
Curtam: >> https://www.facebook.com/TudoSobreFilosofia.com.br << 
Blog: http://jeniferbelles.blogspot.com.br/ 
Contato: jeniferbelles@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário