O século XIX prosseguiu uma
tradição filosófica que veio desde a Antigüidade e
que foi muito alimentada pelo
pensamento cristão. Nessa tradição, o mais
importante sempre foi a idéia do
infinito, isto é, da Natureza eterna (dos gregos),
do Deus eterno (dos cristãos), do
desenvolvimento pleno e total da História ou do
tempo como totalização de todos
os seus momentos ou suas etapas. Prevalecia a
idéia de todo ou de totalidade,
da qual os humanos fazem parte e na qual os
humanos participam.
No entanto, a Filosofia do século
XX tendeu a dar maior importância ao finito,
isto é, ao que surge e
desaparece, ao que tem fronteiras e limites. Esse interesse
pelo finito aparece, por exemplo,
numa corrente filosófica (entre os anos 30 e 50)
chamada existencialismo e que definiu
o humano ou o homem como “um ser
para a morte”, isto é, um ser que
sabe que termina e que precisa encontrar em si
mesmo o sentido de sua
existência.
Para a maioria dos
existencialistas, dois eram os modos privilegiados de o
homem aceitar e enfrentar sua
finitude: através das artes e através da ação
político-revolucionária. Nessas
formas excepcionais da atividade, os humanos
seriam capazes de dar sentido à
brevidade e finitude de suas vidas.
Um outro exemplo do interesse
pela finitude aparece no que se costuma chamar
de filosofia da diferença, isto
é, naquela filosofia que se interessa menos pelas
semelhanças e identidades e muito
mais pela singularidade e particularidade.
É assim, por exemplo, que tal
filosofia, inspirando-se nos trabalhos dos
antropólogos, interessa-se pela
diversidade, pluralidade, singularidade das
diferentes culturas, em lugar de
voltar-se para a idéia de uma cultura universal,
que foi, no século XIX, uma das
imagens do infinito, isto é, de uma totalidade
que conteria dentro de si, como
suas partes ou seus momentos, as diferentes
culturas singulares.
Enfim, um outro exemplo de
interesse pela finitude aparece quando a Filosofia,
em vez de buscar uma ciência
universal que conteria dentro de si todas as
ciências particulares,
interessa-se pela multiplicidade e pela diferença entre as
ciências, pelos limites de cada
uma delas e sobretudo por seus impasses e
problemas insolúveis.
Fonte: Chaui, Marilena. Convite à filosofia, Capítulo 5.
é a mesma poha do livro
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