sábado, 8 de novembro de 2014

Consciência



Perceber o que acontece
 

   Nossa análise dessa situação filosófica – semelhante a muitas que vivemos cotidianamente – teve como propósito destacar alguns aspectos pelos quais o tema da consciência pode ser abordado: consciência de si, do que pensa, sente e faz; consciência do tempo; consciência do mundo, dos outros; consciência ética etc.
 
O que é consciência?


   Esses múltiplos aspectos já mostram um pouco da complexidade desse tema. Não é simples conhecer nem explicar o que é a consciência, pois dependemos justamente dela para fazer isso. Existe uma recursividade em saber que se sabe, em sentir que se sente – enfim, em ser consciente de que se é consciente. É o que torna esse tema fascinante, como destaca o médico e cientista português António Damásio (1944-) em sua obra O mistério da consciência:
    O que poderia ser mais difícil de conhecer do que conhecer o modo como conhecemos? O que poderia ser mais deslumbrante do que perceber que é o fato de termos consciência que torna possíveis e mesmo inevitáveis nossas questões sobre a consciência?
   A consciência costuma ser entendida, portanto, como um fenômeno ligado à mente, esfera onde ocorrem diversos processos psíquicos (pensamento, imaginação, emoção etc.), especialmente o conhecimento. Para vários estudiosos, nada caracteriza mais o ser humano do que a consciência, pois é ela que nos permite estar no mundo com algum saber, “com-ciência”. Como assinala o paleontólogo e filósofo francês Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955):
   O animal sabe. Mas, certamente, ele não sabe que sabe: de outro modo, teria há muito multiplicado invenções e desenvolvido um sistema de construções internas. Consequentemente, permanece fechado para ele todo um domínio do Real, no qual nos movemos. Em relação a ele, por sermos reflexivos, não somos apenas diferentes, mas outros. Não só simples mudança de grau, mas mudança de natureza, que resulta de uma mudança de estado. (O fenômeno humano).
   Devido a essa diferença específica entre humanos e os outros animais, durante certo tempo nossa espécie – classificada biologicamente como Homo Sapiens (“Homem sábio, que sabe”) – foi designada por alguns estudiosos como Homo sapiens sapiens: o ser que sabe que sabe, destacando, desse modo, nossa capacidade. Isso quer dizer que somos capazes de fazer nossa inteligência debruçar sobre si mesma para tomar posse de seu próprio saber, avaliando sua consistência, seu limite e seu valor.
  Foi o que fez Descartes, em suas Meditações filosóficas. Essa capacidade seria a base – pelos menos em boa parte – das grandes criações humanas, como ética, o direito, a arte, a ciência e a filosofia. Ou seja, sem consciência, não haveria nada disso.
Recursividade- capacidade que algo tem de poder aplicar-se sobre si mesmo sucessivas vezes, cada vez usando como base o resultado de sua aplicação anterior.

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