sábado, 1 de novembro de 2014

Em linhas gerais, qual trajetória histórica da Pesquisa Kant no Brasil?

  • Perez- Esse foi o tema que trabalhamos bastante com Juan Bonaccini e os resultados ficaram registrados em um artigo da revista Kant e-prints - uma revista de estudos Kantianos do Centro de Lógica e Epistemologia da Unicamp - e primeiro capítulo do livro intitulado Two centuries of Kantian studies in Brazil. O livro de Charles Villers Philosophie de Kant ou Príncipes Fondamentaux de la Philosophie Transcendental, de 1801, trazido na biblioteca do Imperador, foi o primeiro texto a noticiar o pensamento do filósofo alemão em terras brasileiras. Entre 1804 e 1810, Martim Francisco dirigiu um curso sobre Kant e também teria escrito um livro intitulado A filosofia transcendental de Kant. O livro desapareceu. Na faculdade de Direito de São Paulo, criada em 1827, um clérigo, chamado Padre Mimi, ministrava aulas no curso preparatório, costumava expor aos seus alunos a teoria Kantiana do espaço e do tempo como formas a priori da sensibilidade. Mas foi com os Cadernos da Filosofia do Padre Regente Diogo Antônio Feijó que o Brasil começou a desenvolver de um modo sui generis uma recepção própria do Kantismo. Assim, Kant só voltará a aparecer no cenário intelectual brasileiro fundamentalmente com Tobias Barreto em textos como Recordação de Kant (1887) e outros papéis escritos nos seus últimos anos de vida. No início do século XX, encontramos os textos do Padre Mons. Charles (ou Carlos) Sentroul, professor na Faculdade de Filosofia e Letras de São Paulo. Escreveu La philosophie religieuse de Kant e L´objet de la métaphysique selon Kant et selon Aristóte (1905) com sua versão alemã Kant und Aristóteles (1911). Em 1909, Januário Lucas Gaffrée, sob a influência da escola de Marburg, escreve Teoria do conhecimento de Kant. Em 1924, organiza-se a "Festa comemorativa do Bicentenário de Kant", na publicação do livro constam trabalhos de Amoroso Costa, Kant e as ciências exatas, Abelardo Lobo, Kant e o Direito, Nuno Pinheiro, Kan, e Pontes de Miranda, em face á cultura geral. Já na denominada Escola de Recife e como resposta contra o espiritualismo e positivismo, Silvio Romero, Clóvis Beviláqua, Artur Orlando e alguns outros forjaram uma espécie de neokantismo. Pensaram a Filosofia como síntese, como teoria do conhecimento, como Epistemologia. Mas também pensaram a diferença entre Natureza e Liberdade e em consequência a Cultura como uma dimensão do humano. Buscavam distância do modelo explicativo do determinismo naturalista que levava a uma engenharia social. Nos anos 1940 do século XX, Miguel Reale inicia a reflexão que dará origem ao culturalismo com as obras Fundamentos do Direito e Teoria do Direito e do Estado de corte neokantiano. Depois disso, entramos nos tempos atuais com os programas de pós-graduação e as novas linhas de pesquisa.

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