quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Importância de perguntar



   Por que será, então, que as pessoas tendem a expressar poucas dúvidas, a fazer tão poucas perguntas umas às outras em seu dia a dia?
   Isso pode ser observado, por exemplo, na sala de aula. Quando uma professora ou um professor pergunta à classe se alguém tem alguma dúvida sobre o que acabou de expor, qual é a reação mais comum? Silêncio ou algumas perguntas tímidas. A maioria tem alguma dúvida – ou muita dúvida -, mas não ousa expressá-la. Essa postura ocorre também nas universidades, nas empresas, em encontros culturais, nos almoços e jantares, nas mesas de bar etc. Por que isso é tão frequente?
   Uma explicação pode estar na dificuldade de expressão, isto é, na dificuldade de encontrar as palavras certas para expressar a dúvida que se tem, o que é muito comum. Outra explicação seria que grande parte das pessoas não ousa expressar sua dúvida por medo de falar em público. Esse temor também é bastante comum. O desenvolvimento de maiores habilidade de expressão linguística e de comunicação oral poderia mudar bastante esse cenário.
   Há, porém, uma explicação que nos parece mais fundamental: muita gente acredita, mesmo sem estar consciente disso, que ter dúvidas e perguntar é expor uma debilidade, um sinal de dificuldade intelectual ou de falta de “conhecimentos”. Como nossa cultura valoriza muito a inteligência e a informação (ou, pelo menos, o parecer inteligente e bem informado sobre tudo), poucos se arriscam a ser interpretados como tolos, ignorantes ou confusos ao fazer uma simples pergunta (foi essa a impressão inicial que passou Sócrates na anedota, não foi?).
   Assim, a conversação entre as pessoas costuma ser, com frequência, uma sucessão de monólogos ou de enfrentamentos, em que cada um dos interlocutores está mais preocupado em dar o contra ou exibir seus “conhecimentos”, suas certezas, do que em entender o outro ou aprender com ele – ou junto com ela. Em resumo, o que está em jogo é mais o amor-próprio, a vaidade pessoal do que a aprendizagem. E, quando não entram nessa disputa, as pessoas “optam” pelo silêncio.
   Isso tudo nos parece um grande equívoco. Perguntas são, no mínimo, a expressão do desejo de conhecer mais sobre algo ou alguém, do interesse pelo que pensa, sente e é o outro. Portanto, elas se complementam com a atitude de saber escutar, de dar a adequada atenção ao que o outro questiona ou propõe, de tal maneira que possa haver uma verdadeira troca de percepções e reflexões. Muitas vezes descobrimos nesse processo, nesse diálogo respeitoso, que a outra pessoa – que obseva o mundo a partir de uma perspectiva diferente da nossa – percebeu coisas que não tínhamos percebido ainda, notou problemas nos quais não havíamos pensado até então. Isso ampliará nossa maneira ver as coisas e a nós mesmos, ampliando nossos horizontes e possibilidades de escolha para a construção de uma vida mais justa, sábia, generosa e feliz.

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